O evangelho deste domingo (Mt 17, 14-20) me faz pensar em dois ensinamentos, que se revelam norteadores em nossa tão atribulada vida moderna. Creio ainda que se estivermos de coração aberto, o Senhor nos conduzirá em segurança, enquanto caminhamos nesta vida.
Uma cena inicial me vem à mente. Jesus, saindo do seu momento de oração, caminhando sobre a água em direção à barca onde estão aqueles medrosos discípulos. Pedro, talvez falando em nome dos outros, pede um sinal como garantia de que o vulto que vêem é o próprio Jesus e não um fantasma. Mania antiga de se pedir sempre a Deus um sinal. Isto é falta de confiança.
Esta cena me sugere de imediato a revelação que Jesus faz. Aquele que caminha sobre a água não é outro senão o próprio Deus. Quando ele diz “Sou eu”, a sua palavra refaz o som ouvido por Moisés no monte Horeb, quando esteve diante de Deus e perguntou-lhe o nome e o Senhor lhe respondeu: “Eu Sou” (Ex 3,14). Um texto de Isaías diz algo semelhante (43,10-13). Nos textos originais, Jesus diz “Eu Sou”, que traduzem em nossas Bíblias por “Sou eu”. O sentido, porém, é o mesmo da revelação de Deus a Moisés.
O andar de Jesus sobre a água me recorda o que lemos em Jó 9,8: “Ele sozinho desdobra os céus e caminha sobre o dorso do Mar”. Ou seja, o Senhor Jesus se revela aquele que domina o Mar e tudo o que ele significa. Recordo-me também de uma passagem do salmo 144, que diz assim: “Do alto estendes tua mão, salva-me, livra-me das águas torrenciais” (v. 7). Quer dizer, Jesus se faz ver como o Deus que salva aquele que a ele recorre, pedindo socorro, como diz outro salmo: “Na minha angústia, invoquei o Senhor, ao meu Deus lancei o meu grito, do seu templo santo ele ouviu minha voz, meu grito chegou aos seus ouvidos” (18,7).
Outro ensinamento que este evangelho nos proporciona hoje é sobre a nossa condição de discípulos de Cristo no mar tempestuoso da vida cotidiana. Não é segredo que todos passamos por graves dificuldades, na família _ entre os cônjuges, com os filhos, no trabalho. Vivemos em meio a sofrimentos, ciladas, armadilhas. Nessas circunstâncias, parecemos andar sobre água, quase afundando.
Mas a nossa condição não é de naufrágio total. Nem de derrota diante desse tipo de perigo. Nossa condição é de vitória sobre o que nos quer fazer afundar. Essa vitória, todavia, não é mérito nosso, nem resultado do nosso conhecimento, da nossa força. Ela vem, exclusivamente, da fé em Jesus Cristo. É ele quem salva, é ele quem resgata da água, ou das amarras do medo, da angústia, da dor, do sofrimento. Ele renova em nós a esperança ao nos dar a mão na hora certa. Ele não diz “vem” e desaparece. Ao contrário, ele se aproxima mais, orientando o caminho, o novo passo a seguir, conservando na meta, acompanhando até ao destino. Zacarias cantou essa certeza após o nascimento de João Batista, dizendo que Jesus “ilumina os que habitam as trevas e em sombras de morte e encaminha nossos passos no caminho da paz” (Lc 1,78).
O fato de Jesus aparecer àqueles homens de madrugada, próximo ao raiar do dia, tomando Pedro pela mão, livrando-o do afogamento, é para se cumprir na vida de cada um de nós estas palavras de Isaías: “Sobre ti amanhecerá o Senhor” (60,1-12). Este é um verdadeiro convite que Deus lhe faz, através da cena em que Pedro é salvo da morte. Mesmo que você esteja vivendo os piores momentos da vida, Deus convida você a levantar os olhos e olhar aquele que lhe estende a mão e lhe aparece como luz a iluminar os seus passos.
quarta-feira, 20 de agosto de 2008
A Fé que Salva
Postado por Templo da Nova Jerusalém às 19:08
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